domingo, 31 de março de 2013

o meu corpo é coveiro

queima-me com a tua pior alma,
afasta-me da materialização do sentimento,
eu já estou morto,
já me chamam de sofrimento.

vê-me para além do visível,
mas não retires nada de mim,
porque eu já estou morto
e já me chamam de sofrimento.

eram silêncios como este,
que tornariam o barulhento
um sentido ofuscado,
e eram os gemidos de dentro,
que me deixavam sedento
numa cova algures,
numa outra vida em nenhures.

Ricardo Rodrigues

sábado, 30 de março de 2013

a fine man

a man walked dangerously
to the city's downtown.
as I inhaled the wind,
my heart stood there;
quiet as a bastard.

«could he see me?»
I asked this bullshit, several times,
to the same people
who thought they had broken him.

it was a mixture of feelings,
because who even cares
about a broken man?

Ricardo Rodrigues

quinta-feira, 28 de março de 2013

A ironia é extensa

Como poderei ser alguém,
Se apenas me sinto isto:
Um bloco de gelo à superfície,
Num abandono cruel e drasticamente real.
Que restos de nada serão necessários,
Para formar uma alma tão perdida como a minha?
O que resta de mim é a pura natureza do meu Ser,
E nada mais me importa,
Para além da degradação de tudo o que existe.

Mas não sejam tão crentes das minhas palavras.
O que vos garante que eu não minto
Da mesma forma que escrevo?
Posso ser tão real ou irreal,
Que pouco me afecta.
E pouco me afecta porque muitos «quase nada» já me afectaram.

Vivendo indignado com a minha pobre mente,
Limito-me a ouvir os sons da falta de sentido,
Seria tão irónico se me matasse.
Mais irónico ainda que a extrema ironia
De um poema intitulado «Irónico»,
E se existir, mesmo não sendo eu o autor,
Pertenceria apenas a mim,
Porque eu sinto a ofensa de simplesmente existir.

Foi-me dito que não deveria sentir-me triste,
Ou sequer angustiado,
Mas se nem isso posso sentir,
Que faço eu nesta dimensão corporal?
Mato-me ou deixo de cá vir?

Ricardo Rodrigues

terça-feira, 26 de março de 2013

I'm no longer your lover

I'm no longer a lover
because someone had me
took me far away
and left me there
dying
lying to myself

I'm no longer a lover
my heart remains a loner
my mind could never be heard
because I had everything
and lost it in the sea
can't no one see?

I'm no longer a lover
my body needs to wake up
my skin feels so lonely
but there will never be one
no, not anyone
to take me really high
so, please, just let me get high

Oh, you think this is a joke
let me tell you
how deep my soul is
but wait, you don't care at all
do you? you think this is a joke
but let me tell you
how horrible this is
oh, forget what I was going to say
I just want to go away

Ricardo Rodrigues

segunda-feira, 25 de março de 2013

Despreocupadamente Imaginativo (concurso alen criativos)

Ilustre fantasia
Sigo-te tão tragicamente
Afogo-me em lagos de excitação
Por toda a natureza repleta de afeição
E todos surgimos como um só
De nada estamos protegidos
Nem por nada somos ameaçados

Somos um só
Só eu e mais ninguém
No espaço da natureza audaz
Em que me envolvo nos passos que quero dar
Nos sonhos que quero entrar
E deles não sair mais

Eu quero isto e quero mais
Quero tanto que quase me perco
Tão bom que seria perder-me
No infinito da fantasia
Livre de todas as preocupações
Quase perfeito que seria
Afogar-me nas dimensões das minhas fantasias
Oh como eu gostaria

Ser ninguém não me assusta
É tudo o que quero
Ser desconhecido
Escrever sem as preocupações de ninguém
É tudo o que quero
É tudo o que este poema nos mostra
Uma fantasia deveras complicada
Complicadíssima e audaz

Ricardo Rodrigues

Retiro Fantástico (concurso alen criativos)

Retiro de mim a estrutura física,
Que me desgasta para além do físico.
Retiro do físico os seus pormenores,
Que impediriam o talento do que não é físico,
Tratando-se, assim, de uma dedicação mental.

Penso que estou a sonhar,
Na verdade estou vivamente acordado,
E não querendo, deixo-me levar,
Interessantemente permaneço ofuscado.
Não querendo, deixo-me estar;
Num sonho que não é sonho nenhum,
Com enfeites imaginativos
Que não pertencem ao mundo vivo,
Ou físico.

Este não é poema para se sonhar,
Nem é poema para ninguém.
Não é poema de ações físicas,
Nem de nada que se mova.
Mas é poema,
E é tão audaz como eu na prosa.
(Escrevo-a pouco, mas quando a escrevo, é extravagante.)

Poemas que se movem?
Apenas no auge da minha fantasia.
Fora eu suficientemente audaz?
Assim o espero,
Assim me quero:
Refletido no centro da minha alma,
Suprimindo o sentimento físico,
Criando o fantástico além de tudo
Que já se criou.

Vivo cego, mas potencialmente concentrado
Ao que se opõe à minha fantasia,
(Audaciosa, de facto)
E nada me retira o desejo de imaginar
A verdadeira liberdade, que é isto exatamente:
Livre e audaz.
Não esquecendo o mais importante,
É minha!
E não esquecendo a fantasia,
Também ela é toda minha.

Ricardo Rodrigues

quinta-feira, 21 de março de 2013

An Old Movie

I watched an old movie and fell in love,
I looked at the lines and skin of someone's face,
(Just an almost random person)
It made me realize
How dark and distorted my reality can be.
She wore glasses, and in my mind,
The disguise of someone from the past;
The past which I never really lived,
And neither did she.
Her hair flirted with my nostalgia,
Her eyes made me sink in despair,
Because we don't know each other,
We've never met.
I felt this way because I watched an old movie,
I fell in love with the characters,
The scenes and the psychotic killer.
Until I began to write that behavior,
In the form of blankness,
(Perhaps darkness, you never know)
I could find real joy in black and white pictures,
I really did. I became one with their music and nature,
Until I woke up to read everything
That I had written inside my mind.
The brightest feelings
Are never completely bright.

Ricardo Rodrigues

sexta-feira, 15 de março de 2013

É verdade que assim sou

Não queiras ser eu,
Porque ser eu deixarias de ser tu,
E tu és algo que eu nunca serei:
Amável.

Não queiras. Não queiras morrer.
Não queiras ser eu e ficares despovoada na tua própria alma!

Porém, se um dia quiseres, vem comigo.
Vem comigo e povoa-me o corpo,
O espírito
E o coração,
Que eu sinto-me tão sem nada.

Somos nós num universo paralelo,
Pois eu, já aqui não estou.
E agora me vou,
Para onde o sentimento é povoado
De todas as tuas virtudes
E defeitos.

Deixa-me só.
Deixa-me contigo porque eu sinto-me só,
Tão certo que estou só como o ontem foi,
E aconteceu.

Ricardo Rodrigues

quarta-feira, 13 de março de 2013

Gostaria

Gostaria de me ouvir
Quando sonho.
Gostaria de sonhar
Quando me ouço.
Gostaria de sentir mais,
De chorar mais,
De sorrir mais,
De gritar mais!
Mas não sou nada demais.

Oh, gostaria muito de te abraçar,
De te envolver nos meus poemas,
De te ouvir dizer: "eu existo",
E movimentar-me ao som da tua voz,
Mas tu não existes, realmente!
Tu não existes como em mim poderias existir,
E isso deixa-me tão triste,
Que só vives na minha inspiração,
Que só gostas de mim na minha imaginação.

Eu ainda gostaria de parar de gostar,
Porque gostar tanto desgasta-me
Ao ponto de eu não conseguir dizer,
Querer e morrer.
Mas nada devo temer,
Sei que irei sempre amar de gostar.

Também gostaria de me amar,
Ainda mais do que me odeio,
E não vendo solução para nada,
Segrego-me de mim próprio.

Ricardo Rodrigues
13-03-2013

terça-feira, 12 de março de 2013

I belong to nothing

Everyone is very much unreal. The people who wish you a good day, but never speak to you again. Those who roam the tiring space of your school, but never say anything worth listening. Everyone is very much unreal, even the ones who claim to be real, and there is nothing for me to do to change my melancholic mind. These are my thoughts and feelings, unfortunately, I'm still very sane.
I met many people, but only a few I can remember. I talk to people, but only a few remember what I wrote the previous day. I met a girl, and she looks exactly like me, except she has the appearance of a female, but has the mind of a Human. That's the reason she looks exactly like me.
For too long I will find comfort in books instead of social relationships, and that isn't wrong or right, it's just how I want it to be. I want to be someone who is many books with detailed pages that belong to many, but are understood by just a few or none at all. You may think or believe that I'm a cynical, and you even may be right, however, what would make you create such assumptions? The way I walk, talk or write? Perhaps you're right and I'm wrong. Perhaps all of this is a cynical creation of my poor mind, and you will think bad of me. But I won't care, I'm too cynical in my writings.

Ricardo Rodrigues
12-03-2013

sábado, 9 de março de 2013

Falha-me a intenção de não ser melancólico

Sou melancólico,
Do mais melancólico que há.
A música antiga corre-me nas veias,
Os movimentos são acontecimentos do passado
E os livros são tudo o que eu nunca tive.

Aprecio livros e identifico-me,
Sinto as páginas onde muitos já sentiram
E fico em choque;
Fico em choque porque identifico-me
Com possíveis mortais de outrora,
E os seus pensamentos que perturbam minha alma.
Sem dúvida que me perturbam,
Mas não me importo.

Conformo-me com o silêncio,
Porque só no silêncio me conformo.
Caio em mim quando sinto mais do que gostaria de sentir,
Caio de vez quando nem na conformidade do silêncio
Consigo compreender o sentimento.

Por fim deixo-me cair,
Para que não volte a cair sem intenção.
Deixando-me ser a queda,
Talvez consiga controlar
O próprio descontrolo das minhas outras quedas,
Que não foram intencionais,
Mas seriam provenientes da falta de intenção
No acto de cair.

Ricardo Rodrigues
09-03-2013

quarta-feira, 6 de março de 2013

Nourished Mind

Kiss me when I’m stoned
I want to feel more than just sense
Or taste
I need to listen the flavor crash in my lips
And the writings in my fantasy
I wish to be reborn in flowers
Not in darkness
But I will hold on
Vivid
To enlightened consciousness
Gazing at my nourished mind

Ricardo Rodrigues
06-03-2013

sábado, 2 de março de 2013

Respiração Incinerada

O som é o meu único sentido,
Serei eu bem dividido,
Do enigma que nos trai,
Ou do quem não vai
Ao meu espírito.

Tenho fome:
De pouco que me alimenta.
E tenho receio:
De tudo que me encanta.

Mas já sinto a audição
Em troco do toque,
Sendo flutuante
Do horizonte distante.

Se me deixasse aqui durante a madrugada fora,
Viria a manhã no fim do sonho,
E que seria eu,
Se o sonho acordasse para a vida?
Seria um radical decente,
Um espírito flamejante
No auge da euforia!

Ricardo Rodrigues
02-03-2013