sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sou o que penso não ser

Não tenho papéis suficientes, e muito menos tinta, para pintar, escrever e compreender as angústias do que me rodeia, se é que tenho algo a rodear-me. Já não tenho o que tive, nunca o tive, nunca tive nada realmente; tive-me, e tenho-me, a mim, mas nem assim consigo sentir o que tenho. Existem parágrafos no mundo. Existem diferentes etapas na vida de alguém, mas o que existe em mim é o que ninguém devia ter: uma sequência de tragédias imaginadas por tudo que me sustenta. O meu pensamento. Saliento-me para que não ocorram dúvidas de quem eu sou, e o que eu sou é nada do que consigam imaginar. Mas escondo-me, para que me procurem, e se espero que me procurem, desvaneço na sombra da solidão. Se ao menos tivesse todos os papéis do mundo, escreveria a minha vida neles, e de seguida rasgá-los-ia para que ninguém pudesse perder nem uma noite a ler os sonhos, as tristezas, as felicidades e as loucuras do que não sou, ou do que nunca gostaria de ser. É irónico, não é? Tenho escrito tanta vez sobre o que nunca gostaria de ser, ou do que não sou, que talvez comece a pensar que gostaria de ser, ou que sou o que penso não ser.

Ricardo Rodrigues
22-02-2013

1 comentário:

  1. Simplesmente, lindo!
    Eu também sou assim, tento escrever aquilo que sou e aquilo que não sou, mas as vezes confundo-me e apenas deixo em pensamento tudo aquilo que eu vivo, para ficar guardado na lembrança do esquecimento!
    Adorei o teu blog!
    Já estou a seguir.
    Beijinhos Ludmilla
    http://all-of-my-lifee.blogspot.pt/

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