terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Comecei sendo nada

Ah, como é bom não ser nada!
Não sendo nada ainda tento ser alguma coisa,
Mas se alguma coisa for,
Perco o fascínio de nada ser...

Oh! Que maravilhas de indecisões e de falhas concretas,
Que seria de mim
Sem possuir um tanto de loucura?

Espero que ninguém me agrade demasiado,
Porque, se assim for, teria que lhes agradar também,
E como será de presumir a minha irracionalidade:
Eu gosto tanto de não agradar!
Mas se tu, invejável e seguro, que de mim não gostes,
Menos de mim gostarei.

Ainda espero, deliberadamente,
Por uma entidade que tenha a capacidade
De sugar o que escrevo com tanta intensidade,
Que esta se aloje na sua alma,
E que lá se mantenha livre. Mas apenas lá.
E apenas livre.

Um dia irei querer voltar ao passado,
Nesse passado irei querer que o futuro chegue rapidamente,
Como a água a fugir das nossas mãos insuficientes,
Mas nunca conseguirei estar fixo no presente.
«E porquê?», desesperado, perguntei a mim mesmo;
Porque o presente é tão meu amigo,
Que se esquece de ser realmente meu amigo.

A hora da partida deste poema é tão inútil,
Que não me deixa partir, se quiser.
A hora da partida deste poema é tão inexistente,
Que eu nem pressinto o amanhã.
Mas é bom que seja inútil e inexistente,
Pelo menos assim faz-me companhia.

19-02-2013

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