quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pensar

Penso em escrever como penso em viver,
O meu único problema é pensar na vida.
Nem meios para atingir os fins,
Nem fins para justificar os meios,
Eu não devia pensar na vida,
A verdade é que penso demasiado.
Devo apenas escrever,
Estou farto de pensar na vida que não tenho.

Porquê tão enfadonho?
Pergunto-me com ar monótono,
Porque penso que sou assim,
Enfadonho?
Que palavra de merda!
É feia como a monotonia que me surpreende,
Mas que não me surpreende realmente.

Sou tristemente alegre por pensar que penso bem,
Mas nem mal nem bem, simplesmente
Penso. E talvez seja essa a minha ruína.
Não quero pensar, quero apenas parecer enfadonho
Para não me aborrecerem com a estupidez das notícias
Sobre a minha morte,
Que não me interessam, não, nem um pouco,
Porque sou tristemente alegre.

Quase que me sinto enjoado
Ao perceber as reacções de quem lê a minha disposição.
Esfrego a minha alma, não por sentir-me mal,
Mas para tentar sentir alguma coisa boa,
Para sentir o que os meus leitores não quiseram sentir.
Mas sentiram mais do que sinto,
E assim eu sou um malfeitor.

Porque é que as paredes do meu quarto
São assim? Assim, umas brancas,
Umas escuras, mas porquê?
Será que, quando estou a dormir,
Tornam-se azuis?
Ah, não, elas já são azuis,
Porque eu decidi pintá-las conforme
O meu estado de espírito.

Penso,
(Porra, não penses!)
Pronto, sei que não devo pensar,
Mas que outro mecanismo devo usar,
Para explicar o meu pensamento?
O pensamento que me entretém
É o mais perigoso de todos os pensamentos,
Que me querem afogar.
Sou entretido por afogamentos à escuridão,
Devem estar enganados, os meus pensamentos!
Eu até sou o que não quero ser,
Pensando bem, eu sou tudo do que tenho vindo a dizer.

Mas chega de pensar,
Porque pensar não pode ser bom.
Como poderia ser bom, sendo tão mau?
Chega de pensar em não pensar,
Vou-me não pensando,
E finalizo-me, devendo ao meu cérebro,
Uma melhor forma de pensar,
Sem introduzir o próprio conceito
Do pensamento que é criado sem pensar.
Esta palavra é deveras desgastante...

Ricardo Rodrigues

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