quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sequências de Inexistência

Ano inexistente. Dia solitário.

O Sol continua a sorrir e, também, a dormitar durante um período de tempo (quase) eterno, e a Lua permanece honesta, inocente, como é exatamente a sua luz, perfeita.

Eu fui filho de ninguém, como agora sou pai de nada. A poesia acaricia-me a alma, a natureza aquece-me o corpo e os sonhos que não tenho desaparecem comigo; na imensidão da minha mente irrealista, nos vícios do meu coração, nos olhos de pessoas que eu nunca vira antes. E devido à monotonia que a sociedade deseja importar dentro de nós, a minha liberdade quase que recusa o despertar da realidade, e assim, achamos que o que nos é dito para seguirmos é para ser seguido sem arriscarmos ultrapassar os limites, que foram silenciosamente instalados nas nossas vidas. Nos nossos corpos. Na nossa natureza. Mas a infelicidade que rege em mim não é inteiramente culpa de outro alguém, para além de ser eu o criador da minha própria culpa. E claro que sou pai de nada, ou filho de ninguém, pois nunca irei acreditar em nada ou ser acreditado por alguém, senão eu mesmo.

És tu, corpo sem rosto? És tu, sexo do oposto? És tu, desejo da minha alma, mágoa do meu passado, paixão do meu futuro? És tu que me queres só para ti, ou és tu que não me quer para nada? És tu, no topo da montanha? As pedras que caíram da mesma, ou as flores que por lá ficam, até viverem a sua vida lentamente numa emoção? Ou serás tu que nunca te vi, mas sei o quanto desejas por sentir euforia nos meus traços de imperfeição? Se és tu, verdadeiramente, então despe de mim a pele que arde, toma-me como teu e, depois de satisfeita, atira-me ao vulcão de onde saí, ao inferno a que pertenço. Mas antes disso, toma-me como teu, como tua obra de arte já perdida nas memórias de ninguém.

Um ano depois, dez anos depois, uma vida depois... o que era inexistente, jamais será relembrado, a não ser que falemos de outra coisa... outra coisa como os escritos dos meus poetas preferidos (e eu próprio quase nunca os leio, apenas imagino), os fumos das ervas naturais (que eu pacificamente espero), a música algures no ramo das árvores (aquela música que ninguém sente) e a saudade emocional em que o meu corpo quase apodrece. É exatamente isso, o meu corpo apodrece com falta de nutrição da minha alma infelizmente muito solitária. Haverá algo, vivo, disposto a ser o fruto alojado no meu peito, nos meus lábios e no meu rosto tão desconhecido ao ponto de nunca se ter visto, verdadeiramente?

Haverá alguém tão incoerente como eu, que a única emoção que deseja, é exatamente a minha?! Acredito que sim, mas também suponho que «talvez não».

23-01-2013

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